sexta-feira, 6 de maio de 2016


"É triste quando amigos viram inimigos, mas o pior é quando eles se tornam desconhecidos."
Hayley Williams



A desilusão não é nunca unilateral; quando nos desiludimos, não é só com o outro, é connosco também.
Quando, em algum dia, acordamos com ela sentada à beira da cama, não há sol que nos aqueça a alma, entretanto arrefecida, como se se tivesse derramado sobre ela uma vasilha de água gelada, súbita e silenciosamente.
A desilusão é quando anoitece fria e repentinamente no deserto, fervente instantes antes. Vem de mansinho, sem aviso prévio, transformando tudo ao seu redor do branco para o preto, tornando na tela pintada a paisagem e os seus protagonistas quase completamente irreconhecíveis. Tudo soa a ridículo e o passado a tempo perdido.
Nos entretantos, pensam-se as palavras ditas e as não ditas, os gestos feitos e os gestos recebidos, o que foi feito e o que não foi feito, também o que poderia ter sido dito ou feito e não foi. Um tumulto de pensamentos mistura-se entre si, no meio de uma multidão de emoções descontroladas, numa algazarra ensurdecedora provavelmente igual ou pior à de uma taberna nos tempos medievais, para, num ápice, se recolher ao subconsciente, deixando de volta no ar o doloroso silêncio da desilusão. E então... Tudo o que foi dito e feito e até o que não foi prega-se como desperdício de tempo e recursos, como palavras e acções, sorrisos (e vãs esperanças ou sonhos futuros) sem préstimo e desarrumadas, como aqueles papéis e recortes de revistas guardados num  baú velho, lixo que representa tempo e espaço perdido. Talvez não seja, mas é, efectivamente, o que se sente. E o sentido para o tempo passado perde-se na vontade de nunca ter existido.
Dizia Pessoa "Sentir é estar distraído." Sentir é, de facto, uma garantia de que vamos tropeçar numa pedra da calçada e esfolar o nariz no asfalto. Quem sofre não é tanto o corpo, mas a alma. E, neste caso, a culpa é tanto minha... Como tua.

Afonso Arribança

2 comentários:

BRISA DO MAR disse...

Magnifico o seu texto... Concordei com o que escreveu!!!

Anónimo disse...

Preocupa-te menos com quem não interessa e mais com quem merece realmente a tua atenção. Ela é demasiado especial para a desperdiçares com pessoas que não lhe dão valor.