quinta-feira, 5 de novembro de 2015


"Saberemos cada vez menos o que é um ser humano."
José Saramago



     O cansaço de ti, Ser Humano, é-me escandalosamente irreversível. Confranges-me, Homem, por existires em vida neste mundo. A solidão é o teu eterno e consubstanciado fado, levando-te(nos) à busca inglória do prazer egoísta, enlaçados em mentiras e falsas realidades.
     Cansas-me, Homem, pela ilusão que desabrochas na tua raça. Por passarmos um sexto da vida acreditando que o pai natal existe e um terço dela credenciando as pessoas à nossa volta, no vazio que é ser-se inconsciente perante a desprezibilidade da nossa raça. Merda d’alma pervertida, laivada em pulsões animalescas, que busca a todo o custo apenas e somente a sua sobrevivência em errónea superioridade.
     Enojas-me, criatura, por habitares tão nobre mundo com a tua doentia e escarnecível existência. A tua cruz será, ad totum semper, a da eterna busca da felicidade... No prazer momentâneo, no egoísmo cego, na corrompida ânsia de Ter ao invés de Ser. Ablepsia espiritual a tua que te deixará perpetuamente no abismo da tua (in)existência.
     Esta puta fatalidade impele-nos à existência em social sem estarmos verdadeiramente acompanhados, numa constante dualidade confiança/desconfiança, numa ininterrupta montanha russa de ilusões e facadas nas costas; extenuante fado que nos traz à vida sozinhos e nos leva de volta à inexistência na mesma frívola condição.

Afonso Arribança

Sem comentários: