quarta-feira, 17 de julho de 2013


"Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Fernando Pessoa


Há momentos na nossa vida em que pomos em causa aquilo que sentimos por nós mesmos. Desvalorizamo-nos. Podemos até chegar ao extremo de nos humilharmos. E quando damos por isso, estamos num buraco tão fundo que nem o ADN próprio de um sonhador, de um vencedor nato na vida, é capaz de nos tirar de lá.
Há momentos na nossa vida em que a perda pode significar muito mais para quem a está a viver do que para quem a ouve falar por nós. Por vezes essa perda está impregnada de significado, porque tudo depende da forma como foi vivido aquilo que foi perdido. O cerne da questão está no facto de que nós não temos nada, não possuímos nada nem somos dono de coisa alguma. E muitas vezes vivemos a ilusão de que podemos controlar a nossa vida, os nossos sentimentos e mesmo os dos outros. Mentira. As pessoas mentem. Aos outros e a si próprias, e no amor essa é uma verdade universal. Ou se gosta e se faz por isso ou não se gosta e por isso mesmo não há vontade. O pior na questão do amor, em concreto, é quando damos tudo a alguém, porque os momentos e as experiências vividas assim o exigiam, assim o permitiam... Quando nos entregamos de alma e coração a esse alguém... E porque de coração nos entregamos muitas vezes, mas de alma apenas a uma pessoa na nossa vida, quando somos efectivamente alvo de uma perda... A alma vai com ela. É nesses momentos a que eu chamo de momentos de impacto e que, sem sombra de dúvidas, moldam o nosso carácter, que cavamos bem fundo num pico incontrolável de emoções derivadas dessa perda. E o pior... É quando a vivemos sozinhos, quando damos conta de que são poucos os que vivem momentos que ficam para sempre, não apenas na memória, mas no desejo, no presente, na mais absoluta e subjectiva forma de amor.

Afonso Arribança

1 comentário:

andré maia disse...

«E o pior... É quando a vivemos sozinhos, quando damos conta de que são poucos os que vivem momentos que ficam para sempre, não apenas na memória...»

...

O pior mesmo, é o vazio!... A súbita impossibilidade de conjugar o desassossego com a saudade. Olhar, com espanto, através do espelho e deparar com aquele enorme buraco onde, antes, se alojava a alma.