segunda-feira, 1 de julho de 2013


"Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!"
Florbela Espanca


Minhas mãos esguias asseiam-me os olhos dormentes,
Deitado sobre um leito de crisântemos dolentes
Ramagem absorta sob sonhos destruídos.
E os meus olhos esbravejam contra rios contidos.

São versos tristes de quem não sabe ser feliz
Erguidos pelos braços trémulos de um petiz,
Como pedaços de vida morta, ao vento mofento
Ah! Foi-se tudo... Foi-se tudo num lento perecimento.

Quem me dera voltar a ser criança,
E ter tão somente aquela inerte pujança,
Despir a carne de segredos e pavores
E dançar absorto dos meus sumos horrores

Não como dançam os sonhos desfeitos
Por ora sobre a campa da esperança.
Ah! Como é fácil desacreditar nos feitos
De uma vida que insiste em me desiludir com pujança

Requiem de Mozart e mãos trémulas
Arrancam à alma pedaços de desespero
E à mente consciente os seus maiores tormentos,
Riscando o papel com toda a exuberância

De quem perdeu toda a elegância
De falso eterno crente no amor e na verdade
Nas quimeras dançantes e nos sinos falantes
De quem se abdica ao destino em culminância

De quem tropeçou em sonhos verdes no impudor
De não saber que nada nos é nosso.
Entreguei-me ao pássaro que voou
Num final de tarde invernoso

E permaneço sombra vaga de ti,
Alimentando-me de sonhos de poetas
Dobrados na curva d’aquela estrada
Por onde perdi a alma que te entreguei.

Afonso Arribança

Sem comentários: