terça-feira, 3 de setembro de 2013


"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas."
Álvaro de Campos

    O amor é ridículo. Com toda a beleza que se lhe envolve, não deixa de ser ridículo. E quem ama, por consequência, é idiota; quem verdadeiramente ama é o mais idiota dos Homens, porque nesse contexto, quem verdadeiramente ama, dá tudo de si. Dar-se de corpo e alma é vender-se na patética esperança de o estar a fazer a alguém certo. Mas na verdade, só raras vezes isso acontece. Infelizmente, dá-se o corpo e a alma a quem não merece e depois, como expectável, perde-se parte de si para sempre.
    O que mais me custa hoje é ter-te sentido como o meu porto de abrigo. Contra toda a minha instabilidade, que me levou, desde sempre, a ser como o vento, lancei as cordas ao porto e atraquei. Quando pedi que fosses minha, não o estava a fazer como das outras vezes. Na minha cabeça voavam pensamentos de arrependimento pela forma como desprezei a importância que tinhas para mim. Nesse momento, chorava. As lágrimas corriam-me pela cara abaixo, aliviando-me a tensão, o medo que tinha de te perder. Então, pedi que fosses minha. Aceitaste. Sorri, aliviado, feliz por saber que tinha alguém do meu lado que me amava da mesma forma que eu. Assim, seguro e feliz, entreguei-me a ti, abrindo-te a porta ao meu mundo interior, aos meus pensamentos, sentimentos, defeitos e fraquezas.
    Fui educado numa família em que o amor é valorizado. Num casamento com mais de vinte anos, os meus pais amam-se, exteriorizando esse amor num simples olhar e sorriso, perdidos numa espécie de esfera que os envolve aos dois. Como este exemplo, muitos outros existiram. E talvez tenha sido por isso que dei por mim envolvido nessa espécie de esfera, contigo, comigo, numa forte e inquebrável esperança de que fosse para sempre. De que terminaríamos a faculdade juntos, trabalharíamos e viveríamos juntos, viajaríamos e teríamos, um dia, o mesmo grupo de amigos para sempre. Fazia parte desta inquebrável esperança a ideia de superar os erros que havia cometido contigo, por pensar que tudo aquilo que tínhamos conquistado – o teu incansável e forte perdão, a tentativa de estabilizar, os fortes sentimentos que nos uniam, a ajuda nos momentos difíceis, os bons momentos passados juntos, a paixão que se reacendia – pudesse ter a força suficiente de superar qualquer barreira.
    Mas agora... Nada há mais a dizer. Pois tudo isto... Tudo o que pensei, esperei e julguei não existia. A força que pensei existir era apenas minha. A vontade idem. E assim vai o amor, ridículo. Como aquele que ama, um idiota.

Afonso Arribança

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