quinta-feira, 5 de julho de 2012


Voaram os dias em que eras minha,
Quando tinha o teu corpo como o céu tem as estrelas.
Agora tenho o teu corpo como o homem possui o céu,
Metaforicamente, como se te pudesse ver mas não te pudesse tocar.
Penso e vêm-me as lágrimas aos olhos - ou talvez nem seja pensar,
Mas sentir.
Os meus olhos param com o tempo,
Posso sentir o ardor na vista pelo vento
Que estava naquela tarde à beira-mar
Contigo, numa conjugação a par do verbo amar.
Estava sentado a teu lado como a lua ao lado da terra,
Podia sentir o silêncio falar por mil palavras
Pois há coisas que apenas uma elementar presença pode fazer.
Que seria de um cego, surdo e mudo que amasse
Se o amor fosse feito de imagens, sons e palavras?
Oh, pois.
Voaram os dias em que te tinha,
Como voam as andorinhas, ora aqui, ora noutro lado.
Puderam passar por mim os dias em que fui amado
Sem que pudesse agarrá-los,
De que forma pude pensar na sua imortalidade?
Já nem avisto esperança de tais faustos dias voltarem,
A terra tornou-se seca e nefasta
Todo eu sou tragédia que me afunda
Em tão despropositado abandono de forças.

Afonso Costa

2 comentários:

Mariana Neves disse...

Já há tanto tempo que não te lia Afonso! Sempre formidável :) és dos melhores da blogosfera, sem dúvidas!

Lexy disse...

Tal e qual. Adoro.