segunda-feira, 9 de julho de 2012


"E saberemos cada vez menos o que é um ser humano."
José Saramago


Chiado, Lisboa - 7 de Julho de 2012

    Vejo-vos cegos, criaturas. Andam sem destino, porque não têm olhos na alma. Pensais vós apenas, pois não sabem sentir, vós que se esqueceram de ser; ou talvez não tenhais sido ensinados, ante a ambição de ter. Ter para ser ou ter para pare(ser), eis a questão que se cimenta como alimento desta sociedade cega que se mata por não ver, que mata para ter, porque ter é ser. A escuridão cobre-vos, relegando-vos, animais, ao eterno abate dos sentidos, verdadeiro cerne da existência. Dançai, pois, ritmadamente ao som dos murmúrios ditadores do vosso superego. Cantai, pois, em coro, verdadeiro rebanho de cabras cegas. E sejais felizes na ignorância de não saber o que é a felicidade. Deem, porque não têm; tenham, porque não são; e envenenem o verdadeiro sentido desta humanidade que se esvai da sua existência num lento processo de morte espiritual, Ter, enfim, para ser... Porque é "ser" que não têm.

Afonso Costa

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