sexta-feira, 6 de janeiro de 2012


"Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre."
Paulo Coelho


    As relações amorosas não são nunca simples. As filosofias orientais apelam sempre a uma visão simplista da vida, porém, não podemos encarar as coisas complicadas de modo simples. Seria, de igual modo, estúpido considerar fáceis os processos de divisão celular inerentes ao nosso corpo, a Lei de Newton da Gravidade Universal ou mesmo o conjunto de actividades económicas que levam a que se considere uma Economia Global, entre tantos outros processos.
    E é assim nas relações amorosas, tão longe que estão da simplicidade, tão inacessíveis a uma regra que determine igualdade em todas as circunstâncias. Ao contrário do que pensamos, nós nunca lidamos apenas connosco e com a pessoa que está do nosso lado. Por vezes, a pessoa que está do nosso lado reactiva em nós sentimentos, desejos, pensamentos que em nada têm a ver com ela. Por vezes reagimos com essa mesma pessoa de modo agressivo, e essa forma de reagir é, em algumas situações - e nem em todos os casos -, uma forma inconsciente (e por isso, de nada vale tentarem perceber se é verdade, pois o que está no domínio do inconsciente lá permanecerá) de libertar a agressividade que queríamos ter libertado com outra pessoa no passado. As nossas atitudes dependem sempre de complicados processos que estão na base da nossa personalidade e dos nossos valores. Porém, há coisas que deviam vir connosco desde cedo: a capacidade de sentir o outro como individual e nunca como nosso, pois ninguém é de ninguém, excepto nas relações doentes em que mais de metade das discussões se prende por tentativas de individualização de um dos lados. Nós nascemos para ser apenas uma e só uma alma. Uma alma em busca de outra, é certo, cuja existência nos complete a necessidade de amar e ser amados. Mas nascemos com esse direito e, até, com o de procurar uma singularidade que nos torne únicos. Daí nasce outro direito fundamental: o de nunca nos prendermos, por medo da mágoa, à pessoa que nos ama, nem de nos sacrificarmos pela mesma, nem de sacrificarmos, por contrato de arrendamento eterno, o nosso coração. No fundo, há-que não ter medo do fim. Porque à partida, o amor é eterno: uma vez escrito no presente, escrito permanecerá. É por isso que é erróneo, depois de uma relação terminada, virmos a pensar que os imensos discursados "amo-te" eram palavras vazias. Não se trata de um "amo-te" poder vir a ser falso amanhã. Hoje é verdadeiro, mas dizê-lo não implica que tenha feito um voto de castidade para com a vida. Apenas para com a sinceridade.

Afonso Costa

6 comentários:

Margarida Ferreira disse...

Muito bom, adoro ler o que escreves com alma :) *

AF disse...

desta vez as tuas maravilhosas palavras fizeram-me chorar. está genial!

Moonlight disse...

Afonso....

....sempre sabiamente um sábio.
Adorei e concordo em pleno com a stuas palavras.Mas nem sempre vemos o caminho....

Bj com luar

Anónimo disse...

Este blogue foi destacado como blog escritor 2011. Aqui: http://cween-crazy.blogspot.com/2012/01/o-controlo-demente-escolhe-os-blogs.html

maria eduarda disse...

mais verdadeiro era impossível. bom trabalho Afonso.

Anónimo disse...

Adoro :) acho que escreves muito bem*
aproveita bem o som das palavras :D