quarta-feira, 8 de junho de 2011


"O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto."
Fernando Pessoa


     Nunca vais chegar ao momento da verdade.
    Nunca saberás porque saí da tua vida e tenho a certeza de que lá bem no fundo não te importarás com isso. Quando morreres, velhinha na tua cama, tal e qual cena final de um filme, vais recordar a tua vida, tenho a certeza que sim. Os bons e os maus momentos, os teus amigos, aqueles que entraram e ficaram, aqueles que entraram um dia e saíram noutro, as paixões, os encontros e os desencontros… No fundo, o mergulhar numa dimensão nostálgica, tão pouco racional, de pessoas, lugares e situações que te tornam naquilo que vais sendo ao longo do tempo. Sim, recordarás. Mas eu não estarei em nenhum dos teus pensamentos. Nem em um único. Não porque não queres pensar, nem porque eu quero que não penses, mas porque a vida se vai encarregar de apagar o nosso encontro e o nosso desencontro, sem deixar qualquer rasto, como se as folhas de um capítulo inteiro fossem arrancadas por obra do desconhecido e queimadas na chama de um erro brutal do passado que exige ser esquecido. Embora ambos (ainda) saibamos que esse longo capítulo nos marcou e nos mudou enquanto pessoas. Para todo o sempre.

Afonso Costa

11 comentários:

Anónimo disse...

senti isso que disses-te, ate me arrepiei um bocadinho... conheço uma historia parecida :)

Anónimo disse...

Gostei imenso do teu blog. Ainda não o li com a merecida atenção mas irei certamente ler com a devida atenção numa altura em que esteja menos cansada.
Mas gostei da forma como escreves.
Gostei também da música de fundo, principalmente da parte inicial do piano.
Vou seguir :)
Bom fim de semana que está quase a chegar :)

Luna disse...

As marcas deixadas por encontros do passados ficam escritas em livros que guardamos no arquivo da vida. E seguimos, seguimos para outros rumos, tentamos não olhar para aquele livro e resistir à tentação de o reler. Revivê-lo nunca será possível, por isso o melhor é que fique ali, guardado e esquecido, naquele canto, junto com os outros. Um dia ficará coberto por outros livros de memórias...umas melhores que outras...mas a todas elas devemos o que somos no presente.

Beijinhos
Luna
*

paula disse...

acaba por ser a ordem natural das coisas...cair no esquecimento ou ser lembrados na eternidade. O tempo ao virar da página alia-se ao coração e acaba por apenas fazer lembrar o que sentimos, o que nos tocou a alma. Está em muito relacionado com o erro de descartes: 'sinto logo existo'. Ou seja é aquilo que sentimos, a forma como sentimos que acaba por definir a nossa existencia, a forma como vemos as coisas e como e obvio tambem o que nos lembramos e esquecemos. Contudo esquecimento e intensidade de sentimentos não simbolizam a sua importancia na definição da nossa pessoa.

Gostei. (:

Lipincot Surley disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lipincot Surley disse...

por vezes rezo para que a vida varra tudo, impiedosamente. por vezes tenho medo que isso não aconteça e que as mudanças que ela deixa em nos e as cicatrizes que ela deixa permaneçam sempre, à vista de todos.

vou seguir igualmente, parabéns pela escrita :)

AF disse...

Não sei se a vida arrancará todas as lembranças que restam, mas se essa for a tua vontade, torço para que assim seja.
No entanto, as mudanças que esse capítulo causou devem permanecer, mas é mesmo assim... há sempre um resumo de cada capítulo que transportamos connosco para sempre.

Um beijo ;)

Ana disse...

Nesse caso, vais ser lembrado, não te preocupes.

Perfeito.

Daniela. disse...

Vim cá na esperança de ler o poema, mas atraiçoaste-me, Afonso!

Anónimo disse...

Que registo tão suave, com o seu quê de deliciosa melancolia.

Devo dizer que gostei muito!

Um pouco de mim Rosi Alves disse...

amei!