"Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada."
Clarice Lispector
Foto daqui.
Lisboa, Domingo, 29 de Maio de 2011
Por vezes, o factor história psicologiza-se de tal forma que os anos de vida que procedem o teu nascimento ganham lugar, peso e medida. A sua dimensão é maior do que aquilo que consegues suportar ao ponto de quereres voltar a não existir, deixar de sentir o peso deste fardo que é aquilo que és, aquilo que a vida, as circunstâncias, o tempo, o lugar e os outros fizeram e fazem de ti. É nesse momento que pego no isqueiro, acendo um cigarro à beira da janela enquanto olho para a rua a altas horas da noite e contemplo a finitude da vista que me oferece a cidade através deste pequeno cubículo. É plácida, serena, a sensação de abraçar o silêncio opaco desta noite morna de Maio. Consumo o cigarro, enquanto me consumo em pensamentos, queimando o cigarro lentamente - quão lentamente corre subtilmente o tempo de boleia nos ponteiros do relógio - e espero, tão somente, como quem espera qualquer outra coisa, pelo raiar do sol, para que me possa ir deitar e, assim, descansar do tempo.
Afonso Costa
8 comentários:
muito muito obrigada afonso* adorei este texto,adorei mesmo.
adorei, está magnífico e traduz-me, verdadeiramente, nos dias em que "eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada."
adorei Afonso, transmite perfeitamente a sensação de cansaço que nos assalta às vezes!
e esta música é uma das minhas favoritas de sempre! :)
És tão transparente em cada texto. és tão tu. Tens uma característica fortíssima em cada texto!
o cansaço é um grande inimigo, mas também é um grande aliado quando queremos dar a dita desculpa para o nosso estado menos risonho.
obrigada pelo comentário que me deixaste.
Lindo texto. Adorei!
beijinhos
ah o tempo, sempre o tempo, será que algum dia ele irá nos dar um tempo?!
texto deveras suave...
bjus da kirah^^
A frase não é tua, mas vou "rouba-la" daqui.
Porque foi aqui que fez sentido (:
Parabens pelo blog (:
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