quarta-feira, 31 de outubro de 2018


    Agora que o Verão terminou e a chuva cai com a típica pujança de um início de outono, voltam as memórias que caem como folhas secas de árvore. Impossível controlá-las, improvável esquecê-las. O tempo frio recorda-me dos momentos que, juntos, contemplávamos a dança entre a música do carro e as gotas que caíam nos vidros. O tempo frio traz recordações, mas traz também a saudade, a tristeza e a não-conformação perante os factos consumados.

    Quando surgiram os primeiros sentimentos por ti, não fui eu que os chamei. Tampouco fui eu que os desenhei no meu coração. Mas quando sentimos algo por alguém, é certo que estamos abertos a que isso aconteça. E, não obstante o facto de que tu estavas mais aberto a que isso acontecesse do que eu, o destino decidiu pregar-me uma partida e reverter a situação. Porque quando decidi dar-te uma oportunidade de me provares que valias a pena; quando tomei a decisão de quebrar o muro defensivo que me impedia de aprofundar algo com quem quer que fosse, eu olhei nos teus olhos e, sem defesa possível da minha parte, os meus brilharam por ti.

    O tempo frio trouxe com ele dúvidas, questões que se tornam tóxicas dia após dia. Porque eu sei que tínhamos tudo para dar certo. Porque eu sei que tu sabes disso. E, acima de tudo, porque se algo não deu certo foi porque te fechaste. Não se controlam os sentimentos, mas controla-se a sensibilidade; e quem não se predispõe à sensbilidade - porque enfraquece, porque amedronta e provoca a sensação de descontrolo - não se disponibiliza à sorte ou azar de se apaixonar. E é, neste confronto de ideias, que me arrebato em questões que impedem que eu aceite os factos que tu impuseste. Porque tínhamos e temos tudo para dar certo e tu fechaste-te atrás de muralhas que eu não consigo superar.

    Se ao menos destruísses essa muralha… Se ao menos percebesses que, de todas as pessoas neste mundo, existe alguém que te quer fazer a pessoa mais feliz do mundo. Talvez pudéssemos mesmo ser as pessoas mais felizes deste mundo.

    Se ao menos te lembrasses de como eu te fazia feliz e de como isso me bastava… De como o meu olhar te transtornava e confortava ao mesmo tempo… De como a rotina, os sonhos e os encontros quando estávamos juntos nos alimentava de sorrisos…

    Se te lembrares de tudo isso, quero que te lembres, também, que por muito idiota que seja a minha forma de sentir o mundo, as pessoas e a vida neste século XXI, também sou o mesmo idiota que continua aqui a sonhar com o momento em que decidas deixar de ser egoísta, por uma vez na tua vida, e nos dês a oportunidade que ambos estamos a desperdiçar.

Afonso Arribança

1 comentário:

paula disse...

tinha saudades de te ler. Abraço