quinta-feira, 16 de agosto de 2018



    Há toda uma existência antes de aprendermos a finitude das coisas. Até realmente percebermos que tudo ou quase tudo tem um fim, a vida é-nos fácil de viver. Na verdade, nem tudo tem um fim, porque há coisas, situações ou realidades que apenas se transformam; mas o que é a transformação senão o fim de algo que nos era familiar para vir a ser algo novo?

    Quando e enquanto te conheci, não houve um único momento em que eu pensasse no fim. Na minha humilde e ingénua consciência, estávamos a construir algo que perduraria, no tempo e no espaço, porque cada um daqueles momentos era bom demais para se perderem. Hoje sinto que cada um deles estão a apagar-se como tinta em papel molhado. E a transformação por que ambos passámos e pela qual a nossa conexão passou, deixou-nos também diferentes. Hoje olho para ti e não sei mais quem és, mas de uma coisa eu ainda sei. Sei que tenho saudades... E que cada vez que olho para as estrelas ainda nos vejo em cima daquela mesa de madeira no topo da serra. E que cada vez que olho para uma oliveira, sou invadido por uma nostalgia tremenda daquele momento no campo de oliveiras. Foi nesse momento que me beijaste e me disseste “Adoro-te”, pela primeira e última vez. E essas palavras cravam-se na minha mente a cada segundo que me dou conta da tua ausência. Porque não foi na ausência que eu investi. Porque foi na tua presença que apostei nestes últimos seis meses da minha curta vida. E era na continuidade que eu acreditava. Porque na última vez que os nossos lábios se tocaram, sequei as tuas lágrimas e fiz-te ver o quão importante é a tua felicidade para mim. Nessa noite pediste-me para ficar contigo. E eu não fiquei... Se talvez tivesse ficado.

    Ausência.

    Fechei os olhos e quando os abri, verifiquei o óbvio. Não tinha nenhuma mensagem tua. Chegámos a falar durante todo o dia, todos os dias, mas hoje, desde há algum tempo para cá, não tenho uma mensagem tua. Não sei se estás bem e tu não sabes também como eu estou. E o mais triste no meio das saudades, da nostalgia e da dor da tua ausência, é mesmo a perda dos laços, nos quais se envolvia a protecção, a preocupação, o desenho de simples sorrisos em momentos felizes ou o colo que ambos nos demos em momentos menos bons. E é dessa pessoa, que eu não sei onde se perdeu, que eu sinto falta.

    Mas meu amor... Sempre que ouvir Silva ou MPB lembrar-me-ei dessa pessoa que sinto falta, porque acredito que ela ainda existe. E lembrar-me-ei daquele teu sorriso, tão grande quanto as saudades que tenho para te entregar da próxima vez que te vir.

Afonso Arribança

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