segunda-feira, 18 de agosto de 2014


"I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now"
Wonderwall - Oasis


   “Estou a começar a gostar dela” – dizia eu, sem motivar qualquer tipo de surpresa por parte dos meus confidentes. “Sabíamos que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde” – responderam-me. Não obstante, continuava demasiado agarrado às minhas convicções de que seria um deslumbramento passageiro. Ela era desapegada das coisas mais verdadeiras da vida, algo que sempre me fez bastante impressão. Era um pouco fria e desistente, sem garra e sem objectivos fortes, todas aquelas características que me fariam afastar, certamente. Não tardou, porém, que me confessasse completamente perdido, no âmago de emoções estranhas e incompreensíveis, por alguém que não fazia de todo o meu tipo.

   Para falar a verdade, nos últimos dias tenho desejado nunca te ter conhecido. Passam as noites proporcionalmente ao número de vezes que, acompanhado da tua ausência, contemplo a lua, invadido por uma mixórdia de sentimentos que se afunilam num único desejo de compreender porque é que, não correspondendo tu a nada do que procuro e do que preciso na minha vida, me roubaste o que de mais precioso tinha, a minha individualidade. Estás, agora irremediavelmente, presente no meu pensamento e na minha vida da forma mais dolorosa que o ser humano pode experimentar, a ausência.

   Digo para mim mesmo que nada disto é verdade. Agarro-me ao teu silêncio e incapacidade de exprimires o que quer que seja para criar a ilusão de que não existes no meu pensamento. De que é impossível sentir o que quer que seja por ti. No extremo, de que não existes. No entanto, de forma absolutamente ridícula, as trivialidades do dia-a-dia acabam por fazer cair por terra essa ilusão. Como quando passeio à beira-mar e, por breves momentos, me deixo contemplar o azul do mar... O azul dos teus olhos... De pés emersos na areia, vou sentindo a suavidade da água massajar-me a pele dos pés e das pernas, sem deixar de conseguir ver os teus olhos reflectidos naquela cor de mar. “Acorda, Afonso!” – digo para mim mesmo. “Ela nunca seria a pessoa indicada para ti. Sabias onde te estavas a meter e continuaste, porquê?” A voz da consciência é, hoje, pesada. Contrastando com a consciente impossibilidade de travar quaisquer sentimentos, na ausência de credibilidade que esta relação e estes sentimentos tinham, na ingenuidade da falsa crença de que nos conhecemos e aos nossos limites. Quebraste-os. E o mais frustrante é crer, por te ter olhado nos olhos quando dançávamos e cantávamos a música da tua vida, que não te sou assim tão indiferente. E que essa tua incapacidade de agarrares as coisas mais verdadeiras da vida, de fazeres germinar alguma seriedade no meio de toda a imaturidade que te caracteriza, tenha travado aquilo que eu acredito que exista – verdadeiramente – entre nós, uma pequena semente do que poderia ser nosso no futuro.

   Fugiste, como foges daquilo que te exige luta, daquilo que te exige, tão simplesmente. E é essa tua cobardia que me faz desejar não te ter conhecido. Não obstante de te adorar de uma forma, ainda incompreensivelmente, grande demais para poder suportar a tua ausência.

Afonso Arribança

1 comentário:

BRISA DO MAR disse...

Tive o privilégio de ter encontrado por acaso este Blog e simplesmente acho maravilhoso a maneira como escreve... Os seus textos são fabulosos, cheios de emoção... obrigada por nos brindar com todo este sentimento, tão raro nos homens de hoje!