sexta-feira, 24 de janeiro de 2014


"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
Friedrich Nietzsche


Tenho em mim todas as imprudências de um tolo. Aos homens foi-lhes dada a racionalidade. A mim foi-me dado o mundo inteiro sem que eu soubesse lidar com tal coisa. Cresci com a fé de que os meus actos podiam mover montanhas e, assim, julguei-me capaz de desbravar e ocupar terras num mundo que pensava ser meu. Pois que quando me deram o mundo, ensinaram-me a tê-lo em minha posse, mas não a perdê-lo, nem de que nada é eterno – nem o passado, sob a forma de memória. Nem o tempo. Nem a vida. Perderam-se as fórmulas e as certezas. Idem para os romances e para as congruências dos factos. Se há coisa que não existe nesta vida são congruências. Por isso, quando cheguei até ti, não vinha com a coerência e harmonia que precisas. Este coração d’artista grita inconstância e desequilíbrio, solidão e marcas de um passado que persiste recalcado, e não te chega. Quando cheguei até ti, vinha dilacerado por tantas certezas traídas que o amor que nasceu entre nós dois estava predestinado a vir com espinhos presos em si. Aquilo que sinto nunca é só aquilo que parece e, por isso, o meu amor se torna paixão, incêndio que se autoalimenta sem estagnar. Apenas um lado tão expressivo quanto o da outra face da mesma moeda. Odeio tanto quanto amo e por isso prescrevo a racionalidade face a emoções que fluem imparavelmente. Não por posse – porque de impossibilidade de posse já a vida tratou de ensinar-me –, mas porque os afectos foram a única coisa na vida que encontrei que senti poderem ser realmente eternos, apenas do teu lado. Apenas contigo nos meus braços, o coração d’artista permanecia mudo, calando inconstâncias e cicatrizes d’ontem. Só o teu sorriso acalma a minha loucura e só a tua presença doma o incêndio de contradições que arde no olhar de um tolo. Os teus lindos olhos claros tornaram-me, pois, afortunado porque me confessaram ser de quem é o amor da minha vida.

Afonso Arribança

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