"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
Friedrich Nietzsche
Tenho em mim todas as imprudências de um tolo. Aos homens foi-lhes dada a racionalidade. A mim foi-me dado o mundo inteiro sem que eu soubesse lidar com tal coisa. Cresci com a fé de que os meus actos podiam mover montanhas e, assim, julguei-me capaz de desbravar e ocupar terras num mundo que pensava ser meu. Pois que quando me deram o mundo, ensinaram-me a tê-lo em minha posse, mas não a perdê-lo, nem de que nada é eterno – nem o passado, sob a forma de memória. Nem o tempo. Nem a vida. Perderam-se as fórmulas e as certezas. Idem para os romances e para as congruências dos factos. Se há coisa que não existe nesta vida são congruências. Por isso, quando cheguei até ti, não vinha com a coerência e harmonia que precisas. Este coração d’artista grita inconstância e desequilíbrio, solidão e marcas de um passado que persiste recalcado, e não te chega. Quando cheguei até ti, vinha dilacerado por tantas certezas traídas que o amor que nasceu entre nós dois estava predestinado a vir com espinhos presos em si. Aquilo que sinto nunca é só aquilo que parece e, por isso, o meu amor se torna paixão, incêndio que se autoalimenta sem estagnar. Apenas um lado tão expressivo quanto o da outra face da mesma moeda. Odeio tanto quanto amo e por isso prescrevo a racionalidade face a emoções que fluem imparavelmente. Não por posse – porque de impossibilidade de posse já a vida tratou de ensinar-me –, mas porque os afectos foram a única coisa na vida que encontrei que senti poderem ser realmente eternos, apenas do teu lado. Apenas contigo nos meus braços, o coração d’artista permanecia mudo, calando inconstâncias e cicatrizes d’ontem. Só o teu sorriso acalma a minha loucura e só a tua presença doma o incêndio de contradições que arde no olhar de um tolo. Os teus lindos olhos claros tornaram-me, pois, afortunado porque me confessaram ser de quem é o amor da minha vida.
Afonso Arribança
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