quinta-feira, 13 de junho de 2013


"Se perder um amor... não se perca!
Se o achar... segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais... é nada."
Fernando Pessoa


Rascunhos

    Sabes o que mais custa? Podia resumir tudo numa simples palavra: a perda. Mas explicar numa palavra todo o rol de sentimentos e emoções, verdadeiras teias de uma complexa e subjectiva narrativa, assume-se sempre redutor... Sabes o que mais custa? Reparar nos olhares... E saber que não são para mim. E lembrar-me, porque vivemos de memórias, e assim também os sentimentos, que esse olhar era (outrora) dirigido a mim. Mas sabes o que mais custa? A incerteza do que se passa na vossa esfera fechada, das palavras que são ditas e, mais importante que isso, das palavras que ficam entre linhas. A incerteza e o segredo, que é sempre uma incógnita, andam de mãos dadas e desenham fantasias na mente de quem as vive. As fantasias são produto inconsciente dos nossos maiores receios, das nossas maiores angústias e, porque nem tudo é mau, dos nossos desejos e esperança a eles entrelaçada. Apesar de nem tudo ser mau... A verdade é que o que realmente custa é não controlar o nosso inconsciente e, por isso mesmo, as nossas fantasias repletas de receios e angústias... De perda, de rejeição – ainda que não propositada –, de abandono, de troca.
    Sabes o que custa? Na negridão com que se pinta o presente, sermos impulsionados a nos agarrar a um passado que nos escorre em lágrimas pela cara. O aroma salgado das lágrimas esboçam fantasias de estar perdido no meio de um oceano. E, por isso mesmo, agarrado à esperança de reencontrar o porto perdido. Mas quando o porto perdido está longe, tenhamos consciência disso ou não, vaguear no escuro, na incerteza e na dor é a única certeza presente. Abraço-me, então, a essa dor e a essa incerteza. Não... Não é por gostar de sofrer, não é por abdicar da força e da razão e entregar o corpo e a alma ao desprazer. O facto é que, assim como só sabemos o que é a felicidade porque nos foi dada a possibilidade de vivermos a tristeza, também só sabemos verdadeiramente o que é o amor quando nos é dada a possibilidade de o perdermos.

Afonso Arribança

2 comentários:

disse...

A última frase, hoje particularmente, diz-me muito.
Gostei muito da forma como escreveste.

beijinho

Marisa disse...

Revejo-me :S

Principalmente nesta frase "As fantasias são produto inconsciente dos nossos maiores receios, das nossas maiores angústias e, porque nem tudo é mau, dos nossos desejos e esperança a eles entrelaçada."

Está muito profundo :)