domingo, 9 de junho de 2013


"Condenados à morte, condenados à vida, eis duas certezas."
Alfred de Vigny


(Inspiro)
Tudo é absurdo e ridículo. Os fios de cabelo crescem-me, por ora, tão ligeiramente quanto medram as flores na Primavera. Reparo em pormenores... Penso que, da última vez que cortei o cabelo, estava ainda tão fortemente vinculado às minhas certezas... Tanto quão presas estão as árvores às suas raízes. É natural e mesmo aconselhável que estejamos cientes de que nada pode ser dado como certo; não obstante, o ser humano precisa de convicções, de segurança, de certezas reconfortantes – é da sua Natureza. Hoje temo que as certezas que trago em mim se desvaneçam. A força com que as sinto desaparecer deixa-me sem réstia de dúvidas: nada é certo nesta vida. Que paradoxo! Oh, como a vida é ridícula. Parece que nos encontramos sempre com o destino no mesmo caminho que escolhemos para o evitar. Que absurdo! Agora sentado no alpendre, relembro com pesar tudo aquilo que vivemos. Tudo aquilo por que lutámos. As certezas que cultivámos. As dúvidas que enterrámos debaixo da força ridícula do amor... E penso, seriamente, se será assim tão vulgar e disparatado a vontade de querer estar junto de alguém por toda uma vida? Como é absurdo o amor. Como tudo é ridículo!
(Inspiro)

Afonso Arribança

2 comentários:

Anónimo disse...

Se não existissem dúvidas, significaria que só existiriam certezas, que entenderíamos a vida, que tudo seria facilitado porque saberíamos o significado de tudo, assim seria fácil, mas qual seria a piada da vida? Esse pensamento é vulgar mas não deixa de ser único. A felicidade só tem significado se puder ser partilhada, a pessoa especial dependerá do que existe dentro de nós... Gosto muito da tua escrita.

Rota dos Sentidos :) disse...

Adorei este texto :) O amor , a vida ... um paradoxo terrível !
É preciso conhecer o mal para dar valor ao bem .. esta é o que me consolo no meio de tanto "não bater certo" .. :)

Beijinho*
Catarina