terça-feira, 7 de maio de 2013

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando."

Vinícius de Moraes


    Lidar com as forças internas que colidem no seio da nossa mente é meramente utópico. Somos Natureza e, tal como o ser humano não controla as forças da Natureza, não será, também ele, capaz de lidar consigo mesmo.
    Sofro de prosopagnosia emocional - não sei reconhecer o que quero em mim, o que quero nos outros. E, não obstante, sigo em frente, lutando por objectivos de um eu que se perde no ontem - alcançando o que, tão somente outrora, a ele lhe cabia conquistar. Algo em mim se distende pra lá das minhas capacidades de controlo. Forças que chocam e se esmagam brutalmente no seio do meu eu – espelho partido de almas em estado de conflagração. Um cenário de edifícios que se desmoronam por cima de um cemitério de sonhos, matéria bruta dos alicerces que ainda me aguentam. É a morte simbólica de uma alma perdida dentro de si.

Afonso Arribança

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