sexta-feira, 28 de setembro de 2012


“O ciúme é o travo amargo do amor. Um pouquito dá-lhe ânimo e animação. É como o vinagrete – uma discreta acidez volátil – do bom vinho do Porto. Brindemos então ao Amor. Ciúmes à parte; a acidez fixa faz mal ao fígado... e sobretudo ao ‘coração’.”
António Coimbra de Matos


    Falar sobre ciúme a um amigo, por exemplo, implica, por norma, a quem conversa connosco, defender-se sem que consigamos perceber. O ciúme pode definir-se como um sentimento reactivo a uma determinada situação e envolve um conjunto de emoções, pensamentos e mecanismos biológicos e hormonais complexos, acontecendo sempre numa qualquer relação triangular: eu, a pessoa amada, o rival. Podemos apontar a mais precoce das idades como a fonte deste sentimento, quando a criança percebe que para além desta e da mãe, existe ainda um terceiro elemento – o pai – susceptível de roubar a atenção que este quer da mãe. Mais importante que a constatação da importância que o pai tem para a mãe é a confirmação de que, de facto, existe uma terceira pessoa. Este sentimento vinca-se na personalidade, repetindo-se como um padrão ao longo da nossa vida. O que interessa reter é que, quanto mais fragilizado internamente for o sujeito, mais ciúmes terá. A confiança extrema em si, por vezes, parece indicar o contrário, pois se sou tão confiante, porque raio é que os meus ciúmes serão um indicador de fraqueza? Precisamente porque o medo excessivo de perder o outro se baseia no medo de não sermos suficientemente bons para esse mesmo; e isso implica sempre uma falta de confiança (a que o psicanalista chama de narcisismo negativo) que, maioritariamente, se esconde por detrás de uma aparência forte e madura. Um exemplo de como o ciúme de pode manifestar de forma inversa é quando este surge por identificação projectiva. Traduzindo por miúdos, aquele marido infiel que sente, exageradamente, ciúmes da mulher, não é só senão o típico homem que projecta as suas fraquezas na mulher, sem se aperceber que esses ciúmes são, na verdade, culpa.
    É por isso que, falar de ciúmes com alguém, implica colocar as fraquezas internas dessa pessoa dispostas a tornarem-se conscientes para a mesma. E isso incomoda.

Afonso Costa Arribança

2 comentários:

Pedro Miguel SIlva Macedo. disse...

Gosto bastante do post!

Moonlight disse...

Ora aí está um belissimo tema de conversa.
Muito bom!
Realmente sempre achei que quem tem ciumes doentios é uma pessoa demasiado fraca e fragilizada.Sem segurança alguma em si mesma.

Bjinho cheio de luar