segunda-feira, 23 de abril de 2012


"Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno."
Charles Baudelaire


Dia 4 - 27 de Março de 2012

     Acordei cansado. Mas já estou habituado. Há uns tempos que me encontro privado da habitual força que me enchia de coragem para enfrentar o mundo.
     Parei agora de correr e estou sentado na areia, com o mar bem à minha frente.
   Não consigo não pensar... E porque sou, essencialmente sentimento, penso no que sinto. É um trágico fado o de estar preso à poderosa maquinaria sentimental da nossa psique.
     Enquanto corria, dei por mim a dar asas a fantasias que de sentimental têm apenas a parte que não é pensada. Acho que corria atrás de mim, do passado que já fugiu e não encontro. Ou talvez corresse atrás de ti. Porém, assim que me dei conta do quão impossível me é poder alcançar-te, parei. Agora sentado na areia, penso o quão perdido estou. Não geograficamente, mas de ti e, por arrasto, de mim. Sinto-me, instintivamente, necessitado - não de sede nem de fome, mas de algo que só consigo procurar em ti. Foi isso que me levou a correr atrás de ti, na ânsia de completar um vazio a que chamamos regularmente de saudade. Esta funciona como um medidor, uma forma do nosso corpo comunicar à nossa mente a falta que algo ou alguém nos está a fazer em determinado momento. Em sua essência, a saudade é um instinto. Tal como a sede - procuramos água para não morrermos -, a saudade faz-nos procurar algo ou alguém cuja privação nos faz adoecer.

P.S.: As próximas 7 publicações dirão respeito aos 7 dias da minha viagem, a relatos que fui escrevendo, pensamentos que fui passando para o papel enquanto viajava exterior e interiormente.

Afonso Costa

3 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Tens um diário muito belo. Muito.

Anónimo disse...

Essa falta de força que, ultimamente, tão bem conheço. Esse ser sentimento.

Chego aqui num momento de saudade, nesta busca de algo que me preencha o vazio, e leio-te assim, leio-me aqui. Obrigada.

Cris

AF disse...

sempre do mais genial este espaço ;)