sexta-feira, 13 de maio de 2011


«A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal.»
Raul Seixas 


     No esplendor da maestria d'aquele espectáculo orquestral, minh'alma fez-se plateia desaforada e selvagem d'aquele mar. Abdicado de ímpetos racionais, saciava a minha sede de sensações e emoções animalescas. E que outras cousas não ousassem libertar a racionalidade aprisionada naquela rede de emoções. Podia sentir a música do oceano azul e verde, profundo e penetrante com um ímpeto insano de forças que brotavam de dentro de mim. Era como se o mar chamasse por essas forças, como se elas respondessem e eu, concomitantemente, emissário e receptor daquela conversação entre plateia e orquestra, entre o mar e a alma.

      A monstruosidade da maestria e a perversidade dos meus sentidos alimentavam minh'alma de insanidade e exaustão. Sentia a música como se nos consumíssemos mutuamente numa sincronia de sons e movimentos entre mim e o mar. Os sentidos ficavam loucos à medida que me sentia criador de toda aquela realidade embravecida, enquanto o mar fazia a terra tremer num movimento concomitante e contínuo entre criação e extinção das ondas. Tornei-me, por óbito completo da racionalidade, maestro daquele espectáculo. Levantava, então, as mãos e contorcia-as para cá e para lá, num movimento sincrónico com a sinfonia e movimentos daquela encenação magistral. Sabia que quem me estivesse a ver, não compreenderia a genialidade d'aquele momento, nem pouco mais ou menos. Por isso, fechava os olhos e deixava-me levar por aquele momento de pura insanidade, abdicando dos pensamentos provectos, enquanto corpo e mente enlouqueciam, consumindo-se mutuamente naquele pacto entre o Universo e os sentidos. Quando terminou, e o vento amainou, o mar agradeceu e, sobre os aplausos da plateia, cessou o espectáculo, enquanto os meus sentidos caíam sobre terra, doentes e exaustos.

 
     Fui, sou e sempre serei escravo das minhas emoções e de uma alma que é minha, imperatriz da morte racional e do princípio dos sentidos. Tão pouco depreenderás o que é sentir, na verdadeira acepção da palavra, pois tão poucos são verdadeiros loucos. Os sadios pensam e vencem. Mas só os loucos sabem sentir, e vencem ainda mais.

Afonso Costa

8 comentários:

U disse...

oh love! de génio.

Anónimo disse...

Posso inspirar-me na tua primeira foto para fazer o bolo de aniversário do meu mano? ;)

Beijinhos

squaretee disse...

Fiquei sem palavras, genial!

Anónimo disse...

Aqui para os meus lados quando alguem faz alguma coisa fantastica pergunta-se "quem te cagou meu pombo?". Foi exactamente isso que pensei quando acabei de ler tudo... Sim dei-me a esse trabalho...
Achei o teu blog assim sem querer às 22.47h, e quando acabei de o ler todo eram 01h. Por favor quando escreveres outro texto muda de musica, porque eu fiquei tao envolvidana tua vida e nas tuas palavras e nem me dei ao trabalho de por musica ao meu gosto...
Parabens sinceros!!

Afonso Arribança disse...

Como não tenho outra forma de te responder, aqui deixo o meu sincero obrigado, e que continues por aqui, se assim desejares :)

Anónimo disse...

sim já guardei o teu blog nos favoritos :) faz-me bem volta e meia vir aqui

Luna disse...

Este texto mexeu muito comigo... O mar de emoções que por vezes parece arrastar-nos é a prova de que vivemos intensamente, de que aproveitamos cada momento e dele tiramos as nossas lições. Somos loucos porque seguimos aquilo em que acreditamos, porque defendemos, somos e nos sentimos livres? Então que seja!
Um Beijinho,
Luna
*

Anónimo disse...

Que palavras brilhantes vindas de uma alma com um talento nato e estas tuas palavras sao de um escritor genial e sem qualquer duvida a ultima parte do texto é a que mais gosto talvez por partilhar a mesma ideia .

Beijinho *