quinta-feira, 22 de abril de 2010

[Imagem: Google]

Tic, tac, tic, tac...
Os ponteiros do relógio mentem-me sobre o tempo. Parecem passear tão lentamente como se não houvesse amanhã, que por vezes julgo mesmo que os ponteiros me estarão a mentir. Terá o tempo parado? Há horas que olho para aquele relógio antigo, uma imitação de peças semelhantes originárias do século XVIII, que está naquela mesa desde que me lembro, peça que alguém que não faço a mínima ideia de quem possa ter sido terá oferecido à minha família há muitos anos atrás. A minha avó não costuma lembrar-se de factos recentes pois os anos já pesam e foram passando, um por um, todos eles contados pelos ponteiros daquele relógio, porém ela deverá lembrar-se da origem do mesmo, da história que aquela raridade de peça possa eventualmente contar em silêncio ao tempo. Ao tempo… E ele passa tão rápido... Mas não esta noite.
Como todas as noites, os ponteiros vão marcando os segundos a passo de caracol, e parece que nada nem ninguém conseguirá fazer com que o tempo pareça passar mais rápido.
'Whatever', como é que tal seria possível se neste momento tudo parece ter parado no tempo? Todos deverão estar a dormir, pela janela não se avista vivalma na rua, nem tampouco um carro e só se vê luz na rua e da minha janela. De repente o tempo parou mesmo e não me avisaram que tal iria suceder...? Oh noite mártir dos meus lamentos, porque me mentes sobre o tempo e porque te demoras tanto a ir embora? - pergunto em silêncio à lua cheia que ainda me vai trazendo alguma paz no meio da escuridão daquela noite. E todas as noites a cena se repete, pois é quando a lua sobe ao mais alto posto e o tempo pára que o ser humano se perde em mera treva, na sombra dos seus sentimentos ou dos seus pensamentos mais melancólicos, talvez nostálgicos também, enfatizando os efeitos que a noite tem nas fraquezas do ser humano, tal intensos por vezes que nem sei definir. Sei tão somente que a noite a sós, apenas na companhia da lua, quiçá do barulho da chuva que cai lá fora e de uma música que toca bem baixinho no aparelho de som, me traz a sensação de que estou vivo, para a melhor das alegrias ou para a pior das tristezas, e que há momentos em que o desejo de ter um determinado alguém do meu lado se torna sonho enquanto estou acordado.
Tic, tac, tic, tac…

Afonso Costa

5 comentários:

paula disse...

Sabes de vez enquando tambem tenho a sensação que o tempo não passa e só o luar, vento e a musica parecem acompanhar-me e reconfortar-me.

Mas agora, não que esteja completamente feliz, mas que me sinto em harmonia comigo e com os outros, alegre e feliz e que desejo e peço vezes sucessivas para o tempo parar neste pedacinho é quando ele teima em ir á velocidade da luz.


(:

C. disse...

crês haver líbidos demasiado grandes para os corpos onde estão enfiadas?

C. disse...

quanto ao texto, mais uma ode fenomenal à natureza e às relações humanas.

Moonlight disse...

Afonso,

Eu quase que juraria que o tempo,em alguns momentos....pará mesmo!:)))
Mas não é verdade...apenas uma sensação estranha...por vezes boa outras porêm nem por isso.
Sonhar....
Não sei te dizer se será melhor sonhar acordado ou a dormir....Adoro as duas maneiras!
A tua escrita como sempre eu aprecio, com bastante gosto.

Bj com luar

maria beatriz disse...

"Sei tão somente que a noite a sós, apenas na companhia da lua, quiçá do barulho da chuva que cai lá fora e de uma música que toca bem baixinho no aparelho de som, me traz a sensação de que estou vivo, para a melhor das alegrias ou para a pior das tristezas, e que há momentos em que o desejo de ter um determinado alguém do meu lado se torna sonho enquanto estou acordado." Identifico-me totalmente com esta parte, porque é à noite que me sinto sempre mais sentimentalista, é sempre à noite que os meus problemas se tornam, inexplicavelmente, maiores problemas e a minha felicidade se torna ainda maior. Nunca soube explicar esse efeito da noite em mim, mas a verdade é o que tu dizes. É realmente isso que acontece.