quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


"O perdão é uma das máximas desta vida"
Afonso Costa


Percorri um enorme caminho este ano, e durante todo ele, fui guiado por uma voz de alguém cujos olhos verdes me fascinavam. A dor da sua ausência agregava-se à excitação da sua procura. A luta pela criatura era motivo de orgulho e os passos que percorria, por vezes cansavam-me, outras vezes davam-me forças para seguir por onde aquela voz me dizia para continuar. A dona dos verdes olhos sempre quis ter-me do seu lado, e de todas as vezes que me viu querer ir embora, voltava sempre a enfeitiçar-me com a sua doce voz, belas palavras e um encanto demoníaco que me prendia àquele sonho ou pesadelo. Sem saber, porém, as suas palavras, atitudes e encantos que em mim fazia cair, iam-se virando contra si, dia após dia, cada vez mais. E nada mais pôde fazer para impedir que o caminho pelo qual eu seguia fosse dar directamente ao portão de saída. E assim foi, tempos depois cheguei ao fim de todo aquele bucólico trajecto pelo qual sofri detrimentos uns atrás dos outros sem um único ponto positivo sequer. O palhaço de serviço tinha-se cansado de ser o ursinho de peluche da estante, e quando cheguei, por fim, ao jardim que ficava antes do portão de saída, as árvores tocavam notas musicais em elevadas frequências, fazendo-se sentir aquela música por toda a floresta que atravessei. A magia espalhava-se e quando me aproximei do portão deparo-me com alguém… Tu!? Já te conhecia, daquele cruzamento lá atrás, quando nos odiávamos, mas naquele momento nada batia certo, nada fazia sentido. Percebi que a vida dá realmente muitas voltas, e sem querer, senti-me na obrigação de pedir o teu perdão. Deste-me a mão e eu a minha a ti, e quando a criatura dos olhos verdes voltou a nos assombrar, percebemos a quão ridícula era. De facto, era afinal tão inofensiva, tão pequenina, e nós tão grandes. Quando a música cessou, o vento levantou-se e eu abracei-te. Ao me afastar, olhei pra ti e pedi perdão por tudo, o qual aceitaste. Por fim, dei-te novamente a minha mão, virámos costas e saímos portão fora. És o real Ás de Copas.

Straigh Flush!

Afonso Costa

5 comentários:

U disse...

ironias da vida, não é?
isto fez-me lembrar histórias de crianças.

fon fon fooon *

Anónimo disse...

é bem. adorei, mais uma vez. és um deus da escrita. a única coisa que te tenho a dizer é «viver o presente, esquecer o passado, para construir um futuro mais acertado» (sabes bem). abraço <3

Anónimo disse...

O destino pode já estar traçado, mas o percurso que fazemos até ele depende de nós próprios=D

Amei=D

as velas ardem ate ao fim disse...

Lembra te:

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
[Carlos Drummond de Andrade]

Bjos Bom Ano!

Maria ♥ disse...

nada na vida é permanente, muito menos os sentimentos.
bom ano*