domingo, 27 de dezembro de 2009


Mais retalhos atirados ao vento


O ano está acabar… Deu o que tinha a dar, esgotou os seus dias, gritando aos meus ouvidos que está na altura de limpar o corpo e a mente dos pecados, pensamentos e pessoas, da impureza e daquilo que queremos ver efectivamente longe de nós. Atiro os livros da estante para o chão, as molduras pra cima da cama, despejo as gavetas para um canto e começo à procura do lixo: tudo aquilo que não mais importa vai directamente para o caixote do lixo, e por fim organizo os papéis e a tralha para recolocar de novo na gaveta. Ponho de parte os livros que não vou querer mais na estante, e arrumo tudo o resto. Por fim, agarro nos objectos, cartas e bilhetes que guardei, meto dentro de uma caixa e saio porta fora.
Chego, por fim, àquele lugar onde me ponho a contemplar a grandiosidade da natureza. Ela tudo pode, tudo consegue, e nós – todos nós, SEM excepção -, tão pequenos não conseguimos ser nem um décimo daquilo que a Mãe-Natureza é. Sei que nunca fui são mentalmente e é nestas alturas que me o provo. Em frente ao mar, aplaudo o ano que passou. No ermo daquela terra, consigo sentir, de olhos fechados, a força colossal do mar rebentando sobre as rochas. No momento, solto dolorosos flashes do passado na minha mente, encerro os punhos com uma força tal que deixo a marca das unhas na pele, e por fim solto um imenso grito de louvor a esta vida que me trouxe, no melhor ano da minha vida, os piores e os melhores momentos de sempre. Pessoas marcaram, momentos ficaram, e não os poderei apagar desta história. Mas há pessoas que entraram e foram-se embora, e se algum dia tentarem voltar levarão com a porta na cara, talvez um tiro no meio do peito porque cada pessoa tem o seu tempo, cada momento o seu lugar, e o passado não volta definitivamente a ocupar o lugar do presente.
E SOLTEI as cartas ao vento, as palavras que ficaram por dizer, os bilhetes e objectos que caem prontamente naquelas águas que rebentam mesmo à minha frente. Sinto a força do momento e o meu coração grita de orgulho pela força com que agarro as minhas lutas, os meus objectivos e a minha vida. A contagem decrescente começou, e uma nova vida está por vir. Todos os anos a mesma coisa, todos os anos uma nova vida, uma nova pessoa, novos objectivos, forças renovadas e uma grande vontade de construir este sorriso que nunca mas nunca mais precisará da TUA mão para existir.

5 dias…
Afonso Costa

16 comentários:

Anónimo disse...

mais uma vez, um texto excelente, um texto onde me fez reflectir e enterrar todos os aspectos do passado. permanecendo os bons. novo ano, vida nova, espero que neste novo ano encares a vida de maneira diferente, metendo o passado atrás das costas. vive afonso e vive, intensamente. abraço <3

Sophia disse...

Gostava de ter a tua força, como gostava ...

Mariana disse...

"..e uma grande vontade de construir este sorriso que nunca mas nunca mais precisará da TUA mão para existir."

excelente,adorei afonso*:)

Maria ♥ disse...

quem me dera conseguir fazer isso tudo. deixar tudo para trás e ter coragem de fechar a porta a fantasmas do passado que se intrometem no presente. quem me dera...

paula disse...

Novo ano, novas forças, novas convicçoes, novas pessoas, aventuras, novas terras e mundos reais ou irreais por conhecer...e, principalmente, um novo e maior sorriso
Que concretizes todos os objectivos, que sejas feliz...
Bom 2010 =)

CátiaSofia disse...

Muito bom mesmo tuas palavras, a forma como escreves faz-me querer ler mais e mais teus textos.
Gostei mesmo muito**.
E obrigado por todo o teu apoio, e não o teu comentário, não é mais um entre tantos. Porque cada pessoa tem a sua maneira de pensar, de escrever e ver as situações. E agradeço muito tuas palavras, ajudaram-me muito.
Obrigado.
Beijo grande!

Rumo das palavras disse...

Fantástico, bom ano Afonso.
Um beijinho.

Marianita disse...

Magnifico, consegues sempre pôr-me a pensar. Continua com esta força que tanto admiro e que não a consigo ter.
beijinho Afonso e bom ano

Alexandra disse...

Bom ano, Afonso, que seja melhor que este que está a acabar :) Beijinho *

Jessica disse...

Desejo-te um Bom Ano :)

"(...) o passado não volta definitivamente a ocupar o lugar do presente" e é mesmo! Não volta. Nós não deixamos... e não podemos querer.

Encerra os punhos uma e outra vez. Marca as unhas na tua pele, uma e outra vez, de seguida. Sente-te! E (re)lembra... a força de cada um de nós é imortal!

Um beijinho :)*

Mara disse...

É uma experiencia única ler-te.
Fico sempre cheia de força quando o faço.

Por entre o luar disse...

... Costuma-se sempre dizer que ano novo significa vida nova, eu penso muitas vezes nisso, que realmente o proximo ano vai ser mesmo tudo novo! Mas acaabo sempre por me deixar levar pelas memórias, por não ter coragem de realmente deixar no passado difinitavamente o que não pode ocupar o presente...
Pode ser que 2010 seja um ano de recomeços, pode ser que no ano que se avizinha eu realmente tenha a coragem*

Beijinho Afonsooo*

ic disse...

as tuas fotografias apaixonam-me, acredita*

Anónimo disse...

Todos os anos começa uma coisa nova :$

beijinho *

maria beatriz disse...

Gostava de ser capaz de pôr parte do meu passado para trás das costas como tu Afonso, e gostava de ser capaz de atirar para o mar ou simplesmente para o contentor da minha rua tudo aquilo que já não vale a pena ter nem ler.
És muito corajoso Afonso.
Gostei muito do teu texto.

as velas ardem ate ao fim disse...

Um dia no Velas escrevi:
quando for grande quero ser uma carta.
uma carta inesperada.
num envelope colorido de amarelo clarinho e escrita com a minha caneta preta, de sempre.
com o perfume das coisas vividas.saudades quentes.
não teria remetente, nem destinatário...apenas uma data indefinida, cheia de planos para o amanhã, o depois de amanhã e o depois, o depois...e depois.
até que um dia...imaginário...perto das seis da tarde quando o sol se preparava para ir embora...alguém pegava em mim e me colocava numa caixa de correio pendurada no muro da uma casa .aquela hora em que o cansaço nos vence...os olhos se fecham e o corpo fica mole.
e, de repente....
com uma ansiedade enorme, outro alguém abriria a carta, rasgando sem dó nem piedade. com a curiosidade na ponta dos dedos procuraria o meu eu. ia me ler do começo ao fim, relia algumas frases por não perceber a escrita rabiscada e em mim deitada.
eu deixaria cair um sorriso, lindo e único, que também consigo ter.
e quem continuava a ler seguraria me com cuidado, para não me amarrotar, magoar. com uma vontade louca, correria a vista pela carta toda, com uma alegria a subir pelo corpo, e sentiria o carinho de cada letrinha unida e construida palavra em mim.
e, eu...
suspirava.emoção.engolia lagrimas salgadas...deixando que me continuassem a ler pausadamente. e sem nos conhecermos, eu ia ganhando um perfume doce que se misturaria com o do papel amarelo clarinho.
e no fim da carta...
ou seja no fim de mim... quem me lia colocava me dentro de uma velha caixa, com coisas carinhosas que recebera de alguém especial num dia qualquer.
quero acreditar que fosse lida pelo menos mais uma vez ....talvez quando a saudade viesse.

acho que percebes, não percebes?

e obg pelo comentario: És uma inteligente MULHER EM CHAMAS!quero acreditar que sim.

bjo