sábado, 31 de outubro de 2009


Cadernos, Rascunhos, Desabafos...


[Foto: Belém, Outubro de 2009]


"A Opinião é pois, para mim, a preguiça de quem pensa..."

Olhava para as paredes daquele estúpido edifício que se quis colocar à minha frente e encarei naquele momento a minha frustração com os que duramente viveram e por isso encaram a vida de modo prático, sistemático, mecânico... Expeli a minha raiva momentânea contra os que incompreendem, contra os que acreditam em verdades absolutas - mesmo dizendo que não - e especialmente contra aqueles que acreditam em verdades apenas para lhes aliviar a dor ou para se acreditarem que conseguem esquecer algo, ou tão simplesmente para ignorarem factos ou interpretações que lhes parecem ridículos. Primeiro que tudo, não existem factos. E essa é a regra número um na nossa sociedade, porque neste mundo não vive apenas uma pessoa, nem recai apenas um olhar sobre as coisas. Segundo, o que existem são interpretações, e é segundo elas que devemos viver (Viver mesmo, e não somente existir). Existe uma realidade externa, sim, e saberemos se a nossa interpretação nos levou para caminhos errados, se essa própria interpretação chocar com a realidade externa e isso nos prejudicar ou aos outros (e para isso nos serve o bom senso, ainda e sempre o eterno suporte da humanidade). E que entre as centenas de textos, rascunhos, pensamentos que já fiz em toda a minha vida, fique claro que não sei tudo - sei nada -, não pretendo saber tudo, nem nunca o saberei. Quando o souber terei razões para me considerar duplamente ignorante, primeiro por achar que saber tudo é ser inteligente, e segundo porque a sabedoria impõe limites ao conhecimento. Acrescento, ainda, que, perante a relativa igualdade entre seres humanos, se eu não sei nada, vós também não sabereis. Não tomeis como verdade, a vossa interpretação, e não interpreteis quantidade de conhecimento com qualidade do mesmo. A opinião é pois, para mim, a preguiça de quem pensa. Na realidade, e geralmente não colocamos as mãos no fogo pelas nossas opiniões, mas para as mudar temos sempre tanta disposição como para queimar as nossas mãos. Não existem factos, pois eles mudam, e não poderão existir interpretações e opiniões que se fixem como as raízes de uma árvore debaixo da terra: com o tempo, as raízes apodrecem.
Por fim, acabei de tomar agora como verdade absoluta a inexistência de verdades absolutas e, perante esta atitude tão simpática para com quem dirigi os meus sentimentos de frustração, tomo a liberdade de deixar aqui o meu pedido de desculpas - embora tão somente tenha tomado como verdade absoluta a 'minha' realidade, e não a vossa. Cada um que pense aquilo que quiser, é essa a máxima da liberdade.

Post Scriptum: Queres encontrar a verdade? Encontra-la tão somente nos teus sentidos. É sentida de forma diferente por cada um de nós, tão simples e tão verdadeira.

Afonso Costa

9 comentários:

Afonso Arribança disse...

Não confundir 'liberdade' com 'libertinagem'. By Miguel Paquete. Obrigado :)

Anónimo disse...

E de acordo com o teu texto, esta é a tua interpretação da realidade. Eu gostei do que li, talvez o melhor mesmo é libertarmo-nos de tantas complexidades e seguirmos na brisa da vida :) Eu pelo menos tento fazer isso... ando a falhar ultimamente, demasiadas preocupações sem fundamento. Mas eu sei que vou voltar ao meu estado original, livre :)

Ei, viste-me no metro? xDD E não sabes dizer nada? Bah! :P

Anónimo disse...

Adore de verdade Afonso +.+

. disse...

Ninguém é perfeito, não é verdade? x)
Gostei do texto +.+

. disse...

Mais uma grande publicação!
Apesar de não comentar muito, sigo assiduamente o teu blog. =)

Maria Francisca disse...

Outch, dói. Isto dói. 'com o tempo, as raízes apodrecem.'
Isto dói mesmo.
Às vezes as pessoas não têm a noção da potência e da força que a sua opinião tem.
Chá, café com leite, água, e afins.
Tudo menos bebidas com gás, isso não.

Miguel Paquete disse...

LOL Não acredito que meteste isso aqui. AHAHA (A)Não existes!

maria eduarda disse...

ora aí se encontram grandes verdades . continua :D

Spiritual disse...

A nossa interpretação nunca nos leva para caminhos errados... apenas para caminhos que possam necessitar ser revistos... mas isso todos necessitam ser revistos... já lá dizia o outro "Nunca ninguém se enganou, tudo é verdade e caminho"...

A sabedoria que o é verdadeiramente, abre caminhos ao conhecimento e a mais sabedoria, não lhe impõe limites, ou então não é sabedoria... é talvez, simples conhecimento, obsoleto, sem possibilidades de operacionalização... de facto, qualquer diferença de sabedoria, ou de conhecimento, entre qualquer um de nós, é ínfima, se olharmos o tamanho da imensidão que nos envolve... mas é o suficiente para fazer grande diferença na "qualidade" da vida que cada um de nós leva... e não me refiro a bens materiais ou a acontecimentos exteriores a nós... refiro-me à postura interior, e à capacidade de tirarmos proveito de cada pequena coisa que a vida tem para nos dar...

Opinião pode ser, como tudo, preguiça, se nos encostarmos a ela e não a revirmos, mas também ginástica, se a estivermos constantemente a aperfeiçoar!! :D