sexta-feira, 29 de abril de 2011


“As estrelas são belas por causa de uma flor que não se vê…”
 Antoine de Saint-Exupéry



    São eloquentes as vozes que me chamam à razão, confesso. Tu, como poucas outras pessoas que me conhecem - ou parte de mim -, sabes que vivo noutro mundo. Mas descansem que não me perco nesta vossa terra, pois felizmente sei sonhar com os pés assentes no chão. Acontece que, por vezes, somos compelidos, por motivos de força maior, a descer à terra, a deixar a nossa linguagem e a tentar comunicar pela língua universal, o que nem sempre nos é fácil fazer - falamos ininterruptamente segundo a nossa perspectiva, segundo a nossa língua e os nossos significados, pelo que diligenciar um esforço para falarmos a mesma língua pode arrogar erros crassos de interpretação das duas partes interessadas. Afinal, podemos tentar falar na mesma linguagem, mas o nosso coração nunca falará o mesmo idioma.
    Foi por isso que vim ter contigo. Desisti de viajar por uns momentos para te poder vir entregar algo que te pertence. Não podia, aliás, tê-lo feito. Nem eu a ti, nem tu a mim. Emprestar-te o meu coração e levar o teu em troca foi um erro que sempre nos atormentou no árduo caminho de aceitar a distância que nos separa o abraço. Quando, há uns meses decidi partir, tinha-te dito que era por um bem maior. Pelas palavras que proferi, fui invadido por uma vaga sensação de vazio, pois libertar-te havia requerido um esforço da minha parte que a minha mente havia querido fazer, mas o meu coração não. Assim, parti, levando-te, mesmo assim, no meu coração e no meu pensamento, como a todas as pessoas que me são importantes. Continuo a acreditar que transformar os sentimentos são a melhor maneira de mantermos as pessoas importantes para sempre na nossa vida. Sabes, os sentimentos podem ser tão benignos, como se podem tornar numa perigosa faca de dois gumes, tanto aproximam as pessoas como as afastam, tanto as fazem amar-se como odiar-se. Mais importante que amar, é saber amar. Porque amar não é querer, mas gostar. Porque amar não é exigir, mas nunca o fazer. Nunca te exigi nada, e sempre te admirei, sempre te respeitei e sempre procurei manter-te num lugar que me permitisse ver-te e saber que serás sempre uma estrela presente na minha vida. Gosto de pensar assim... Penso que se as estrelas nunca desaparecem da nossa vida será porque nunca falamos para elas: a palavra destrói e afasta. Assim, contemplemo-nos, minha querida. Porque mais importante que saber que existes, é poder "tocar" nessa existência.
    Por isso vim ter contigo, dar-te a minha mão e pedir-te que procures no fundo do teu coração a resposta para a pergunta que em silêncio te fiz. "Poderei eu ter feito ou dito alguma coisa de errado em todo este tempo?" Ou foi simplesmente a vida que errou connosco? Caso queiras encontrar-me, sabes onde estou e onde sempre estarei, à beira do mar ou à beira do rio, observando plácido a vida como as estrelas.

Com todo o carinho,

Afonso Costa

3 comentários:

Anónimo disse...

Que linda declaração de amor. Merece uma resposta.

beijinhos

paula disse...

'felizmente sei sonhar com os pés assentes no chão. Acontece que, por vezes, somos compelidos, por motivos de força maior, a descer à terra, a deixar a nossa linguagem e a tentar comunicar pela língua universal'

Haverá sempre um se no caminho e nas certezas que levamos algo que nos leva a outros caminho a buscar, descobrir outros caminhos além daquele que trazemos. Contudo o mais importante será sempre reter que como disseste: 'o mais importante não é amar mas saber amar'

samedi disse...

adorei o blog.
(mas, não te consigo seguir *)