segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Ensaio sobre o (meu) amor


O enorme campo verde do meu amor por mim é de um tamanho sem fim. Poderia contar as flores que nele desfloram e crescem diariamente, mas estaria a cometer um erro, pois o meu amor por mim não tem fim. Sou, talvez por isso, incapaz de amar a gigante e colossal maioria dos campos verdes e castanhos que existem por este mundo fora, tamanho é o sentimento que nutro pelas flores da minha existência. São campos alheios, uns amados, outros mal amados, mas sobretudo são campos que não me pertencem. E eu apenas amo aquele que cultivo, aquele que me deram e o qual soube proteger e amar desde sempre. Numa abreviação menos metafórica e tampouco hiperbólica do amor, sou capaz de o definir como uma das realidades mais mutáveis que possam existir, podendo este assumir diversas formas e feitios, de pessoa para pessoa, de local para local, de cultura para cultura... No meu caso, amar alguém é esquecer-me por vezes da beleza do meu campo para me poder enfeitiçar com a beleza do campo vizinho, venerá-lo e apreciar, na sua plenitude, a perfeição que pode significar uma paisagem aos olhos de quem a vê. Por outras palavras, amar alguém é conseguir abstrair-me do meu amor por mim em detrimento do de outrém. E quando assim é, fico vulnerável, mas brutalmente vivo.

Afonso Costa

12 comentários:

qel disse...

..inseguro mas confiante, frágil mas firme. por outras palavras, é mais ou menos assim, nao é? :) *

Anónimo disse...

Adorei o texto, escolheste mesmo bem as palavras e concordo mesmo com a tua ultima frase .

Beijinho *

Anónimo disse...

É isso mesmo. Gostei muito. :)

Beijinhos

paula disse...

De certa forma por muito que ignoremos há sempre uma parte de nós em que cultivamos o nosso amor próprio esse que descreves como não tendo fim muito certeiramente! Contudo há muitos outros jardins a admirar e a cultivar e nos quais depositamos o nosso amor, o nosso tempo e consequentemente uma parte de nós.

E a pouco e pouco começa a formar-se não um eu nem um tu mas um nós.

Simplesmente uau. Adorei a forma como abordaste o amor conseguiste ser diferente e chamar atenção e não cair no basico...conseguiste marcar a diferença deixando uma marca muito tua!

Moonlight disse...

Afonso,

Se nos amarmos a nós propios saberemos amar os outros.Apesar de ficarmos vulneráveis isso é muito belo e faz sem duvida alguma sentirmo-nos vivos e felizes!
Fantastico!

Bj com luar

Mariana Neves disse...

amar, não é tão facil como se julga. apagar-nos a nós proprios, dessa maneira graciosa e ingéneua (fragil também), é dificil e é necessário muita força. Mas quando o é, é mesmo, tanto.

Armanda Cunha disse...

adorei!

RicardoRodrigues disse...

Deus!Escreves tão bem! Gostei bastante deste teu post.

Sofia disse...

Sim, que bem descrito... vulneraveis e brutalmente vivos... em vôos sem rede e sem trens de aterragem, mas com toda a vontade e garra de voar! Gostei tanto... vou voltando!

Sofia disse...

Sim, que bem descrito... vulneraveis e brutalmente vivos... em vôos sem rede e sem trens de aterragem, mas com toda a vontade e garra de voar! Gostei tanto... vou voltando!

Catarina Bessa disse...

Escreves tão bem :O

rascunhos disse...

gostei muito :D