domingo, 28 de fevereiro de 2010


[Foto: Google]

Vejo, no lamento, as palavras choverem lá fora, entre caminhos cruzados, pelo crepúsculo ou pelo alvorecer, num íntimo alento de suspiros que fazem o sangue desta terra e, entretanto vou achando tudo tão extremamente ridículo. Nada sou, nada me sinto, e as minhas palavras criam-se mudas, no meio dos assobios do vento, do som do rebentar das ondas do mar, e dos biliões de almas que habitam neste mundo. Alio-me à inutilidade e acho tudo tão dispensável, tudo tão ridículo. Os ventos cruzam-se, batendo-se uns contra os outros. Uns de Norte, outros de Sul, Ocidente ou mesmo Oriente, brigam por um lugar nesta terra e não ousam chegar a lado nenhum, verseando em coro secas poesias que vão trazendo a fome e a sede por onde passam. De luto existem as pobres vozes, tais ventos, porque sofrem vagueando sem destino cantando em línguas estranhas, porque o estranho é tão-somente aquilo que não conhecemos, e cantamo-lo quando não somos compreendidos ou quando queremos tão simplesmente complicar, fugazmente numa ânsia cruel de libertar algo preso no peito. Mas é, de todo, inútil romper o silêncio por debaixo do túmulo... Oh desilusão...! Os ventos não escutam e passam, vozes primitivas e dolorosas que fazem o sangue desta terra. E é agora o momento. Na sombra da inutilidade, canto baladas de silêncio e segredo aos ouvidos da lua a frustração que a noite plantou em mim. Mas porque nada sou, nem a mais nem a menos, um no meio de biliões de pessoas neste mundo, os cantos são abafados e o silêncio permanece silêncio.
E tudo o vento levou...

Afonso Costa

2 comentários:

paula disse...

Melancolico, triste...emocionantemente encantador. (:

Inês Henriques disse...

E tudo o vento levou...
Que texto lindo *.*