quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


"Tudo tem o seu tempo"


Tudo tem o seu tempo, tudo acaba por ter um ponto final, e embora eu não acredite em finais concretos, porque para mim nada se cria, nada termina, tudo se transforma, acabei por aceitar que existem factos nesta vida que permanecem intactos, talvez transformados em outras coisas, no meio de outros factos, que embora mais importantes, não deixam de co-viver com os menos importantes que insistem em ficar. Quem já sentiu e viveu um amor platónico e seguiu em frente sabe do que falo. Como uma grande casa, que mesmo que seja demolida, deixará sempre em seu redor a poeira do que já foi, um grande amor também não acaba, transforma-se, nem que seja em pó, e mantém-se no mesmo lugar. Como esta casa, que entre prédios novos, grita, muda, ao vento as dores da sua velhice. O tempo levou a sua vicissitude, a jovialidade, e o interesse. A casa poderá até ter uma história muito bonita, e nela podem ter sido vividas histórias muito interessantes, mas neste momento ela apenas existe. É isso, apenas existe! Tu és como esta casa, tiveste o teu tempo, e agora tão-somente existes, desse lado, como eu existo pra ti deste lado. Espero, porém, que o tempo não te arruíne como a esta casa, e só tu poderás impedir que isso aconteça, e não deixar que um dia acabes sozinha e sem absolutamente ninguém, como uma vez me disseste (“Tenho a sensação de que um dia vou acabar sozinha”). Apesar disso, sei que vais acabar na mais mísera solidão, e não me custa mais saber isso. Mas tenho alguma pena.
No fundo, tu és mesmo como esta casa: tiveste o teu tempo.

Afonso Costa

12 comentários:

Lurdes disse...

Realmente muito certas as tuas palavras: "Tudo tem o seu tempo".

Parece-me que o mais difícil é que tudo se transforme em pó... e que esse pó não nos intoxique sempre que arrastamos os pés por lá e ele por momentos de levanta e se faz assumir.

Um beijinho

(sou seguidora silenciosa)

Anónimo disse...

Não acho que tudo tenha o seu tempo, o mundo não pode ser assim tão simples quando nós próprios somos tão complexos. Claro que existem fases e pessoas que vêm e vão, mas há sempre aquilo que fica incondicionalmente. Não nos podemos basear no que já foi e que somente deixou a poeira, mas sim naquilo que temos neste momento (ou que poderemos vir a ter num futuro próximo), e que será para sempre.

"Apesar disso, sei que vais acabar na mais mísera solidão, e não me custa mais saber isso. Mas tenho alguma pena." --» como podes afirmar tal coisa? :S

Talvez não esteja a fazer a correcta interpretação do texto, e se assim for, peço as mais sinceras desculpas. Ando mesmo muito cansada por causa dos exames.

Seja como for, texto muito bem escrito e cativante, as always :)

***

Mara disse...

«No fundo, tu és mesmo como esta casa: tiveste o teu tempo.»

exactamente como me sinto*

paula disse...

'Nada se cria, nada termina, tudo se transforma'
Para mim esta é uma verdade. Um grande amor nao se esquece, uma amizade mesmo que muito distante nao se esquece. Nada termina...tudo acontece no seu tempo. Acontece que o tempo passa e nao espera por ninguém. É como um comboio sem paragem...segue sempre cabe-te a ti acompanhar o seu ritmo e ter a coragem suficiente para deixar cada coisa no seu tempo ou lutar para transformar - moldar essa coisa a nós e ao que pretendemos. Contudo são precisas duas pessoas para dançar o tango e sozinha(o) torna-se impossivel.

Anónimo disse...

adorei o texto e sobretudo a fotografia. parabéns :) abraço <3

-tânia disse...

"Tudo tem o seu tempo" :')
Todos sabemos que o grande amor de uma vida nunca se esquece! :#
Está lindo o texto,como todos '.'

Daniel C.da Silva disse...

Muito interessante esta reflexão. Nao sei se tudo tem o seu tempo. Fica a sensação de que nada é eterno. E se calhar nao é. Mas será? No entanto, tambem conheço a paixão mas desconhecia essa perspectiva com que falas dela. É um texto diferente, sem dúvida, talvez com a crueldade da propria paixão que nao se desenvolveu em amor.

Um enorme abraço

P' disse...

"omo uma grande casa, que mesmo que seja demolida, deixará sempre em seu redor a poeira do que já foi, um grande amor também não acaba, transforma-se, nem que seja em pó, e mantém-se no mesmo lugar."

Mais um belo texto , Afonso.

Miguel disse...

Não sei que dizer! :D tudo que escreves é assim algo de... Fantástico! :) Eu limito me a concordar com o que leio aqui e com o que me vais dizendo aquando das nossas conversas ao telemóvel! :)

abraço estás mais que cá dentro

**

-tânia disse...

Esta música é lindissima :')

Joana M. disse...

E tu foste a tempo? A tempo de viver nesse amor como se numa casa?

Anónimo disse...

Depois de ter lido o teu comentário ao meu comentário (xD), acho que percebi o que querias afirmar nessa frase. O que ela te fez e também a essas outras pessoas não foi amar, provavelmente ela nem sabe o que isso é para agir dessa forma. E se continuar assim... bem, creio que concordo com a tua afirmação.
No entanto, tu sabes o que é o amor, e é por isso que tenho a certeza que um dia (se já não tiver acontecido) irás encontrar alguém capaz de te retribuir todo essa ternura e carinho que tens para oferecer :)

Beijinhos Fonfas xD