terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Sonha como se vivesses para sempre; vive como se fosses morrer hoje."


[foto: Florença, Outubro de 2004]

Há dias em que vencemos, há dias em que perdemos, há dias em que choramos, há dias em que rimos, há dias em que amamos, há dia em que desejamos morrer, há dias em que desejamos gritar de felicidade, e outros que nos apetece cometer loucuras, há dias em que invejamos, outros em que somos invejados, uns em que sentimos ciúmes, outros em que os provocamos, há dias em que nos orgulhamos de nós próprios, outros em que nos orgulhamos dos amigos, da família, de um conhecido ou de um desconhecido que cometeu um acto heróico… Mas independentemente de toda a carga emocional a que estamos sujeitos e de tudo o que nos acontece na nossa vida, bem ao jeito de uma novela mexicana, não nos apercebemos realmente do enredo em que estamos metidos, ridicularizando a seriedade do que nos acontece, nem entendemos o seu sentido, ignorando os factos e pintando na tela uma imagem que faz da nossa vida e da dos outros uma simples brincadeira. [Happy selfishness!] É comum acabarmos por vulgarizar o que acontece, por esquecer coisas, pessoas, gestos que foram importantes, por desistir de algo que jurávamos de pés juntos ser importante, ser essencial, ser a razão (luta esta que acaba por perder o valor e o sentido após a desistência), muitas vezes nem sequer lutamos pelo que juramos ser importante, quanto mais dar o devido valor a quem merece, e no fundo, acabamos por nos tornar… simples seres humanos, como qualquer outro, egoísta, descrente, orgulhoso da fatalidade em que caímos dia após dia, sozinho na força ilusória que esconde fraquezas e falhas próprias de cada ser humano - todos nós temos janelas partidas.
Há falta de seriedade, de amor, de gestos, de entrega e complacência. E a cada dia que passa, mais me convenço que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, que nos livrando do sofrimento, acaba por nos tirar também o prazer de sermos felizes.

Parei por momentos na rua, e apesar de não conhecer ninguém, imaginei a vida de todas aquelas pessoas que por mim passavam. Ao meu lado estava um velhote sentado no chão a pedir esmola. Hoje na miséria, e ontem talvez um forte e valente soldado que tudo deu pela pátria, pela família. Desvalorizado, sem amor, sozinho no mundo que o abandonou. É essa a nossa realidade. E muitos fazem por não a mudar, vivendo no seu próprio egoísmo, porque acreditam ser isso que os torna especiais. Mas para mim as pessoas não se tornam especiais pela forma de agir, nem pelo aspecto exterior, nem pelas palavras grátis já tão gastas que oferecem, muito menos pela carteira que guardam no bolso de trás das calças, as pessoas tornam-se especiais pela profundidade com que nos tocam.
Dei uma moeda de dois euros ao velhote e, por fim um abraço, tornando-se ele na lágrima que me escorria no momento da despedida. Virei costas e pensei em como (ainda) tenho sorte na vida.

Amar exige compreensão, paciência, força... lágrimas... e muitos sorrisos.

11 comentários:

David Pimenta disse...

Afonso, este tocou-me particularmente. Não sei mesmo o que dizer, achei que o fizeste muito bem não é necessário acrescentar nada .

Outro Afonso :P

Porcelain disse...

Podes ter a certeza... amar implica tudo isso... sobretudo uma profunda paciência!! :D

Beijos!

Jessica disse...

Eu acho que não é mesmo preciso acrescentar nada. Como mencionou o Davi(d) fizeste-lo muito bem...
Amar exige muito, exige-nos a nós. O que acontece actualmente é que todos estamos tão preocupados em ser egoístas, em salvaguardarmo-nos, protegermo-nos que recusamos a entrega aos outros.

(A tua lágrima, escorreu no meu rosto enquanto lia este texto. Não quero parecer (demasiado) sentimentalista, mas foi mesmo isto que aconteceu.)

Parabéns *

Joaninha disse...

"vulgarizar o que acontece"....
torna se tudo tao banal, tao insignificante que acaba por ser tao indiferente..e a rapidez com que tudo isto acontece, a passagem do especial para o nao especial, faz de nós, tambem, seres nao especiais em determinadas circunstancias!

"doi" ler o texto....
ta lindo!
Joana Reis

Mara disse...

«Há falta de seriedade, de amor, de gestos, de entrega e complacência.»

Não podia estar mais de acordo...O pior mesmo é quando damos tudo isso a alguém e esse alguém, pela comodidade, pelo medo de amar, nos renega, mesmo que não seja a sua vontade verdadeira. Isso mói, isso revolta.


És especial Afonso: já me tocaste de diversas formas a partir de todos estes teus textos*

Anónimo disse...

Para mim, e isto até pode soar mal, actualmente amar exige algo transcendente nas pessoas.
Mas o texto está todo tão bem conseguido! :]

Marianita disse...

Este comoveu-me, está fantástico, a atitude que tiveste foi magnífica, todas estas palavras me tocaram mas faz todo o sentido pararmos um pouco e olharmos em nosso redor pois muitas das vezes por ai conseguimos reparar que somos felizes com o que temos e como somos.
"as pessoas tornam-se especiais pela profundidade com que nos tocam"
e poderei dizer-te que ler este teu texto hoje, me ajudou imenso, obrigada =´)
beijinho

Por entre o luar disse...

Este texto está algo de extraordinário...!! Parabéns Afonsoo...

Gostei da parte : ..."pensando (ainda) como tenho sorte na vida"

BaSTA ter amor no coração e sorrisos para dar, ACREDITA*

beijinhoO

Anónimo disse...

"Há falta de seriedade, de amor, de gestos, de entrega e complacência. E a cada dia que passa, mais me convenço que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, que nos livrando do sofrimento, acaba por nos tirar também o prazer de sermos felizes."


(Mais) palavras para quê? Não podia estar mais de acordo. Mas tal como são raras as pessoas que encaixam como peças de puzzle, também as são as pessoas que vêem a realidade que consegues ver. Gostei do texto :)

Um beijinho*

Lurdes disse...

Tenho seguido o teu blog e este foi dos textos que não resisti mesmo em comentar!

Entendo tudo o aquilo que disses-te. Vivo desses abraços que dou àqueles que nada têm ou já ninguem lhe resta. São pessoas que como tu dizes: "tornam-se especiais pela profundidade com que nos tocam."

És realmente especial, pois o teu gesto tocou aquele que o recebeu. tal como ele a ti.

Um abraço hospitaleiro
Lurdes

Afonso Arribança disse...

Obrigado Lurdes. Comenta sempre que assim o quiseres.

Um abraço :D