quarta-feira, 20 de maio de 2009

Carta (im)pessoal:

Sabes o que me irrita no meio disto tudo? O teu egoísmo.

E no meio da chuva,
As lágrimas são camaleão.
Não existem.
E no meio do alarido,
Os gritos vão-se abafando.
Somos surdos.
E no meio dos sorrisos,
Os choros vão-se escondendo.
Somos cegos?
Ninguém vê,
Ninguém ouve,
Ninguém pára para ver além.
Nem uma moeda, meu bem,
Tem apenas um lado.
Completa-se com duas faces.
E eu estou incompleto, mas que se lixe.
Que se lixem as moedas e os lados.
Que se lixe eu, tu e que se lixe o amor.
Deixem-me chorar todas as noites,
Saudades que atacam, insuportável dor.
Deixem-me chorar, enquanto adormeço,
Porque de dia, entre gargalhadas tudo esquecerei.

Construíste as minhas asas e queimaste-as.
Se não fores tu de novo a colá-las,
mais ninguém as colará.

Afonso Costa.