domingo, 9 de março de 2014


"O caminho dos paradoxos é o caminho da verdade."
Oscar Wilde


Giovanni Bragolin - The Crying Boy (1970-1980)  


Passam os anos como passam os segundos.
Não são medidas de tempo, mas de mudança,
Correm sobre o quotidiano, fazendo dele emergirem
Reacções de choque entre os diversos elementos.

Nada se perde, antes se transforma,
À margem dos ponteiros que rodopiam,
Sob o olhar cego dos Deuses.

E passam os tempos,
Os dias, horas... Até os segundos,
As quatro estações do ano,
Os doze meses do ano...

Guardo, pois, em mim
Todos os lugares por onde passei,
Todas as pessoas que por mim se cruzaram,
Mesmo quem pouco deixou pra lembrar.

Entretanto sou espectador e actor,
Existo enquanto objecto e objectivo,
Realizo-me como estrangeiro e como nativo,
Esquecido nas trevas, renascido com fulgor,
Ocioso na permanência e atuante na mudança
De um mundo que é meu,
De um mundo que não é.

Mas onde me totalizo e transcendo em sonhos
E quimérico devaneio de ter em mim
Todas as sensações do universo
E de que todas estas me tenham em si.

Afonso Arribança

3 comentários:

Anónimo disse...

Adorei... Continua a escrever, pois gosto muito de vir ao teu blogue

Anónimo disse...

'Guardo, pois, em mim
(..)
Todas as pessoas que por mim se cruzaram,
Mesmo quem pouco deixou pra lembrar.'
- Espero vivamente que sim, ainda se tenha findado o nosso tempo (curto, porém intenso - pelo menos para mim), memorias permanecem; ainda que eu 'paradoxalmente' deseje que desvaneçam e não mais me atormentem. bb it was real and 'we' r the best
;)

Anónimo disse...

Parabéns Afonso está muito bom! Tens algum livro publicado? Adoraria ler. Beijinho